24 outubro 2008

Memórias da Linha de Cascais (3)

Na sequência dos posts anteriores aqui e aqui, deixo hoje os últimos excertos do capítulo dedicado à minha Freguesia Carcavelos. E hoje falamos de vinhos…


“… O sítio de Carcavelos, dilatado pelas colinas ribeirinhas do Tejo e do Oceano, tem as melhores condições orográficas, geológicas e climatéricas, para produtor de vinhos.
Já no século XVII os vinhos de Carcavelos haviam fama no País. Generosos carregados na cor, trepadores, e com bouquet característico. Vinhos que mereceram a Filinto a ode consagradora:

“Rapaz, deita mais vinho
Vê se inda achas do doce Carcavelos
Garrafa nalgum canto”

A sua área de produção é reduzida. Fora dela, o vinho verde perde as qualidades essenciais. Não vai além de duas léguas quadradas. Aí o produto afina-se. Não é um Madeira, nem um Porto. É um Carcavelos. Dezassete graus de graduação alcoólica, com a sua cor, o seu paladar, o seu aroma particulares. A Duquesa de Abrantes, mas suas “Memórias”, ao referir-se a este vinho, diz várias vezes “… ce delicieux vin du Carcavelos…”.
…..
O Marquês de Pombal criou a marca oficial dos vinhos de Carcavelos e colocou-a no plano dos vinhos do Porto e da Madeira.
Os ingleses tomaram-lhe o gosto pela mesma época em que o bebeu a Duquesa de Abrantes – durante a guerra peninsular. Wellington teve o seu quartel-general, largo tempo, nas famosas linhas de Torres, região onde fica metida a área produtora do “Carcavelos”. A guerra forçava toda a gente a dispor, apenas, dos recursos da região mais vizinha. Os oficiais ingleses privados do seu amado Porto, provaram o “Carcavelos”. Provaram e gostaram. No regresso à Ilha Inglesa, falaram e gabaram este vinho que a guerra lhes fizera descobrir.

O “Carcavelos” viajou muito. Chegava dantes a toda a parte. Oh! Como ele era belo. Quando nos aparecia numa garrafa de gargalo torcido, coberta de pó. A rolha quase desfeita e com um rótulo de papel de costaneira onde simplesmente se lia, em caracteres desbotados pelo tempo, a palavra Cracavelos, o que era um dos maiores indícios da sua pureza. O tempo altera todas as coisas. Emendou-se a ortografia e perdeu-se o vinho …”

in “Memórias da Linha” de Branca de Gonta Gonçalo e Maria Archer

E assim fica a minha sugestão para o fim-de-semana: tentem encontrar uma garrafinha de Carcavelos e saboreiem-no de forma especial. Mas se não for Carcavelos, pode ser um Moscatel, um Muralhas, um JP…. Há muitos e bons vinhos portugueses por onde escolher!

Tenham um bom fim-de-semana!

6 comentários:

Luís F. disse...

Tenho de ter este livro!
(Onde compraste?)

Garantidamente vou seguir o teu conselho… uma vinhaça branca marchará!!!

:)

Bom Fim-de-Semana!!!

mfc disse...

Um licoroso sedutor!

Custódia C. disse...

Luís
Não comprei, foi-me oferecido por uma amiga que sabe que gosto destas coisas. É uma edição da Câmara de Cascais. Não sei se haverá na livraria municipal. Posso emprestar-te é claro. Tem episódios giríssimos...

SC disse...

Deve ser barato, uma garrafa desse vinho, agora. :)

Bom fim-de-semana!

Helena de Tróia disse...

pois aqui infelizmente se não for vinho do porto (a preços escandalosos!!!!), português não se encontra mais nada..os gregos não são maus mas que saudades dos tintos alentejanos!!!

Suzi disse...

Mas que delícia, sua visita lá na casa do Amigão, Ccc!!
E ainda mais que chegou com CINCO garrafas de Carcavelos! Uia!
O que se comenta por lá é que os ingleses tinham razão: não deixa nada a desejar ao do Porto.
Os que já beberam dois cálices já andam dizendo como a Duquesa: “… ce delicieux vin du Carcavelos…”.

;)