Tenham um bom fim-de-semana!
30 janeiro 2009
Se não a posso vencer….
Tenham um bom fim-de-semana!
29 janeiro 2009
Ruth e Rachel
É véspera de Natal. Lá fora, o vento sopra irritado, agitando as águas do oceano. O barulho das ondas gigantescas a desfazerem-se contra os rochedos, atinge à distância a vila isolada no cimo da encosta. É um som agradável, quase que uma música de fundo a enquadrar a comemoração festiva que se adivinha.
Ana espreita pela janela e vê as nuvens escuras que se aproximam rápidas, vindas do lado do mar. Vai ser um Natal frio e chuvoso como ela gosta. Serão à lareira, com muita brincadeira, histórias antigas e os maravilhosos bolinhos da avó. Tem dezasseis anos e desde que se lembra de ser gente, os seus Natais foram todos passados ali, em casa da avó Rachel. Memórias doces de uma vida ainda curta, com quem o destino tem sido até agora bondoso.
Enquanto na cozinha a mãe, a avó, a tia e a Marta, a benjamim da família, que, embora os seus 10 anos, adora tachos e panelas, estão ocupadas com os preparativos para a ceia de Natal, no jardim e apesar do frio, o pai, o tio João e David o irmão mais novo, estão entretidos a consertar a cancela de madeira, que já viu melhores dias. A avó tinha prometido uma sobremesa especial se lhe arranjassem a dita (já estava farta de a ouvir bater…. efeitos do vento constante na região).
Ana, que tem um temperamento calmo por natureza, assusta-se quando as primas gémeas, dois anos mais novas do que ela, irrompem pela sala, numa agitação de quem traz novidades para contar. Trazem com elas uma antiga caixa de madeira trabalhada, cuja tampa tem gravado em estanho o nome Ruth.
- O que é isso meninas, o que andaram a fazer?
Sofia, a mais agitada das duas, defendeu-se de imediato:
- Andámos no sótão, mas foi a avó que disse que nós podíamos – e depois ansiosa por mostrar o “tesouro”- tens que ver isto, Ana! Foi a Sara que encontrou, estava lá em cima naquela estante do canto. Tem fotografias antigas lindíssimas. Devem ser de Marselha. A avó nasceu lá, lembram-se?
Sentam-se as três no chão em frente ao calor da lareira e rapidamente a reunião se transforma numa discussão animada, sobre aquele mundo a preto e branco.
- Olha esta, diz Sara, deve ser bem velhinha, olha as roupas … e o ar … tão estático e sério. Será o nosso bisavô?
- E este bebé? Está atafulhado de laços e fitas, nem dá para perceber se é menino ou menina! Exclama Sofia. Não pode ser a avó! Será?
- Olha aqui está uma fotografia da cidade…. Está tão esbatida!
- Ah esta é lindíssima, disse Ana, exibindo uma fotografia que mostrava uma menina a envolver num abraço carinhoso, uma senhora de ar distinto e doce.
- Essas são fotografias da minha família, diz uma voz vinda da porta e essa sou eu e a minha mãe.
- Ah avó venha ver connosco. Quer dizer que esta é a bisavó Teresa? – perguntou Ana.
- Não minha querida, essa é a minha mãe verdadeira, a bisavó Ruth.
- Ah a bisavó Ruth que morreu durante a guerra … e quando é que esta fotografia foi tirada? Conte-nos lá Vó, ainda se lembra?
Rachel dirigiu-se para junto delas e olhou, momentaneamente aturdida, para todas aquelas fotografias. As netas ficaram subitamente em silêncio, enquanto a avó mergulhava rapidamente em recordações perdidas no tempo e na memória. Algum tempo depois sorriu-lhes e disse:
- Há muito tempo que não mexia nesta caixa. Era da minha mãe e foi a única recordação que me ficou dos meus anos franceses. Vocês sabem que eu vim para Portugal com 5 anos, viver com uma família que me criou e acabou por me adoptar, quando soube da morte dos meus pais.
- Nós só sabemos assim por alto, conte-nos melhor avó, pediu Ana.
- Eu não tenho muitas lembranças, o que me ficou na memória, foi o que os meus pais portugueses me contaram. Eu nasci em Marselha em 1939. O meu pai era filho único e órfão de pais. A minha mãe que era francesa de origem judia, tinha como família apenas um irmão mais velho, os pais tinham morrido eram eles muito jovens. Os meus pais conheceram-se numa recepção oferecida pelo Consulado de Portugal. A minha mãe era a melhor amiga de um casal que trabalhava no Consulado e o meu pai tinha lá ido em representação da Câmara local. Acho que foi paixão imediata, porque casaram um ano depois de se conhecerem. Sei que se adoravam e que ficaram muito felizes com o meu nascimento. Apesar de origem judia a minha mãe era católica, pelo que fui baptizada ainda bebé e os amigos da minha mãe (a bisavó Teresa e o bisavô Henrique) foram os meus padrinhos. Infelizmente com o desenrolar da Guerra as coisas complicaram-se, com a perseguição aos judeus. Em 1943 e dadas as nossas origens, o meu tio, a minha mãe e eu, fazíamos parte de uma lista de nomes para deportação. Os meus pais ficaram desesperados. Na mesma ocasião, os amigos da minha mãe, estavam de regresso a Portugal e ofereceram-se para me trazer com eles, até que as coisas acalmassem ou a Guerra acabasse. Com a ajuda de documentos, falsos viajei como filha deles e vim para Lisboa. Essa caixa da minha mãe foi a única coisa que veio da minha família, bem escondida no meio das roupas da bisavó Teresa.
Na sala, entretanto invadida pela penumbra, a voz da avó, seguida pelos olhares vivos e curiosos de Sara e Sofia, era de vez em quando interrompida pelos comentários de Ana:
- A bisavó Teresa e o marido foram formidáveis, não foram Vó?
- Foram sim minha querida! Não só salvaram a minha a vida, como depois de saber da morte dos meus pais, adoptaram-me e deram-me uma vida feliz.
- E quando a avó veio embora, o que aconteceu a seguir? – perguntou Sofia
- A minha mãe e o meu tio foram enviados, primeiro para o Complexo de Drancy perto de Paris e posteriormente para Auschwitz onde morreram. O meu pai desesperado com a prisão da minha mãe, ingressou num grupo da resistência francesa e morreu um dia numa emboscada. Só soubemos destes acontecimentos, um ano depois da guerra ter terminado. Foi então que os meus pais portugueses me adoptaram – concluiu sorrindo a avó Rachel.
- Então e esta fotografia sua com a sua mãe, a Vó lembra-se quando foi tirada? – perguntou Ana.
- Lembrar propriamente creio que não, mas quando olho para a fotografia tenho uma sensação de conforto e de tranquilidade e uma ideia vaga de festa. A bisavó Teresa contava que, quando fiz quatro anos e com a Guerra cada vez mais feia, a minha mãe decidiu fazer-me uma festa de aniversário, que fosse alegre e ficasse na memória de todos. Fez-me um vestido muito bonito e quando me viu com ele gostou tanto, que me levou ao fotógrafo para perpetuar o momento. Tirámos duas fotografias, essa e uma outra só comigo, que deve ter ficado com ela porque não veio nessa caixa.
- Estão lindas as duas, Vó! – comentou Ana suavemente – é uma fotografia que transmite um enorme carinho, mas ao mesmo tempo há uma tristeza nos olhos da sua mãe, como se ela adivinhasse o que estava para vir.
- Nas guerras cometem-se sempre muitos crimes e a perseguição aos judeus é uma vergonha que ninguém deveria esquecer. Infelizmente a memória dos homens é curta - disse a avó suavemente – mas agora chega, é Natal, estamos juntos e isso é o mais importante. Quem quer provar os meus bolinhos de maçã e canela, acabadinhos de sair do forno?
As gémeas saltaram de imediato e correram na direcção da cozinha. A avó seguiu-as e quando chegou à porta da sala, olhou para trás e percebeu que Ana continuava sentada no chão a olhar a fotografia que tanto a sensibilizara.
- Ana, dou-ta, queres ficar com ela? – perguntou, sorrindo.
O rosto de Ana iluminou-se:
- Oh avó, obrigado! Não estava com coragem de pedir! Vou pintar-vos, às duas, sabes? Vou fazer um quadro contigo e a tua mãe – respondeu alegremente.
A avó saiu atrás das gémeas e Ana ficou no calor da sala, arrumando as fotografias e a pensar já em telas, cores e pincéis.
É véspera de Natal. Lá fora o vento sopra mais calmo agitando, mesmo assim, as águas do oceano.
Custódia
Novembro 2008
28 janeiro 2009
27 janeiro 2009
As pontes, ai as pontes...
26 janeiro 2009
As coisas que o homem faz
23 janeiro 2009
Dos livros!
Tenham um bom fim-de-semana!
22 janeiro 2009
20 janeiro 2009
He had a dream…
19 janeiro 2009
Pois é, a virtude pode mesmo ser uma coisa fácil!
Do realizador Stephan Elliott (lembram-se do genial Priscilla Rainha do Deserto?), é uma espécie de romance- comédia (por vezes negra?), cheia do nonsense inglês (o mordomo cínico e mordaz, que esquece muitas vezes o seu lugar, fez as minhas delícias).
É um filme simples de fotografia soberba (para isso em muito contribui o habitual british countryside) e de guarda-roupa cuidado. O típico humor britânico cruza-se em determinado momento com coisas mais sérias (como a referência à chacina que foi a Guerra de 14/18 ou a essa terrível doença chamada cancro) e percebemos que essa é também uma forma de sobreviver à crueza da vida ou seja, fazer humor a partir das coisas difíceis que nos acontecem.
16 janeiro 2009
15 janeiro 2009
Do tempo e outros afins
13 janeiro 2009
Objectos de que gosto (3)
Acabei de picar um dedo, porque tentei coser um botão sem dedal (estou no serviço), o que deu origem a este post. A verdade é que não consigo coser um botão sem usar um dedal e quando era criança adorava brincar com eles. Tenho cerca de meia dúzia, não porque costure com frequência (aliás não costuro de todo!), mas simplesmente porque os acho bonitos…
12 janeiro 2009
Quem sou eu ?
Who am I?
I'm nobody! Who are you?
09 janeiro 2009
Vou ali arejar e volto na segunda-feira!
Tenham um bom fim-de-semana!
08 janeiro 2009
Impossível ficar indiferente.
07 janeiro 2009
Este é um blog do contra!
05 janeiro 2009
O Diário de CC
- Conseguir cozer peixe, sem deixar a fervura saltar fora do tacho
- Entrar numa loja de artigos para casa e sair de lá sem deixar cair ou partir nenhum objecto
- Não adormecer no sofá, a ver um dos filmes preferidos na TV
- Chegar ao fim do ano, sem necessidade de trocar qualquer pequeno electrodoméstico
- Comprar lâmpadas, logo que se gasta a última do stock
- ... e mais algumas coisas que ainda devem acontecer-me por estes dias...