21 abril 2011

Papoulas e poesia


Encosta do Castelo dos Templários em Tomar, 17 Abr 2011 (foto minha)

“… Sem pretensão e com humildade, aqui vos deixo os poemas que se seguem. Não tenho a pretensão de pensar que, por amor deles, possa passar por entendido em poesia. Não sou. Sou apenas um apaixonado por alguma poesia: a que escolhi e muita outra que não pude seleccionar por falta de espaço. Na minha idade, já não estou em tempo de me enfeitar com penas de pavão…” in “os poemas da minha vida” de Mário Soares, edição Público.

De Tarde

Naquele «pic-nic» de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.

Cesário Verde, poema escolhido

3 comentários:

mfc disse...

Um dos "meus" poemas de Cesáreo... e que bem que fica com as tuas lindas papoulas!

Kok disse...

Muito bonito, muito bucólico! Gostei.
Não imagino Mário Soares e poesias.

Turista disse...

Querida Custódia, não conhecia este poema do Cesário Verde, mas gostei muito. Estás a ler a colectânea?
Beijinhos