17 fevereiro 2015

A hora do chá



Era todo um ritual. Primeiro a escolha do aroma, logo seguida do bule adequado. Depois vinham as chávenas ou as canecas. Sim, porque se há chás que se bebem em chávenas de delicada porcelana, outros há que só serão devidamente saboreados se  servidos numa caneca que possa contar uma história e que se segura com as duas mãos. A hora do chá era o seu momento preferido do dia. Punha uma toalha bonita na mesa e preparava dois, três ou quatro lugares, dependendo do espírito do momento.Se estava para poucas conversas era só para si e mais um convidado se, pelo contrário, a fase era de euforia, então seriam quatro à mesa. Tudo era feito com movimentos suaves e ritmados, antecipando o prazer do momento. Servia o chá acompanhado de pequenos biscoitos e de muita conversa. Lembrava histórias da sua vida passada, das viagens que fizera, das aventuras que vivera. Sempre num monólogo eloquente, vibrante e entusiasmado, acompanhado de muitos gestos. A ausência de resposta não parecia incomodá-la. No final levantava a mesa, não dando conta do chá por beber nas chávenas dos convidados ou dos biscoitos intocados nos seus pratos. Não dando conta da solidão, nem dando conta da vida que já não era. No dia seguinte, a hora do chá voltaria a ser o seu momento preferido do dia...

1 comentário:

Mona Lisa disse...

Um texto de uma beleza emocionante.

Beijinhos.