12 fevereiro 2008

A força da terra


“…. Ela herdara também essa fome de terra, que tivera o pai e que tivera o avô, e que, nas raízes da sua família de ciganos vagueando de terra em terra, era como uma marca de berço. Essa fome não se explicava facilmente: não era apenas uma vontade de terra que matasse a fome, de riquezas, de prosperidade, de olhar todos os dias o que fosse seu. Era um desejo mais profundo que atinge aqueles que, tendo nascido ou vivido no campo, parece que só assim é que não se sentem deserdados, desamparados, sem poiso nem beira. Ela vira como o seu Tio Aurélio, irmão da mãe, que no levante da vida se tornara proprietário de uma pequena courela de meia dúzia de hectares, lá para os lados de Avis, já velho e doente, mas com dinheiro suficiente para viver tranquilamente os últimos anos de vida, recusara mudar-se para a casa da vila, onde viviam os filhos, preferindo ficar só no monte, agarrado àquele torrão que ninguém conseguiria convencê-lo a vender… “
in Rio das Flores de MST

Quando li este excerto, pareceu-me que o autor estava a falar do meu tio J. Não tivesse eu a certeza de que não se conhecem um ao outro e acreditaria que aquela passagem seria fruto de uma conversa de desabafos à volta de uma lareira ou de um passeio entre oliveiras e sobreiros. Terra, quanta força numa simples palavra!

7 comentários:

Luís F. disse...

Tenho de ler, tenho de ler!!! Vai ser o próximo!!!

gnoveva disse...

a terra é no fundo a única coisa que nos mantêm à tona.

Su disse...

Sinto tanta falta de terra, de mexer nas plantas, de apanhar as horataliças para a sopa, de ir aos figos e às cerejas...de cortar as melancias pensando que já estavam maduras, de ficar com dores de barriga por comer ameixas quentes :)
Tenho que arranjar tempo para ir mais vezes à "terra".

1entre1000's disse...

"Terra, quanta força numa simples palavra!" grande mas grande verdade!

marta r disse...

O Tio J e o Tio Aurélio podiam ser um só...

(Também encontrei registos do passado no excerto da matança do porco...)

Miss Alcor disse...

Que lindo!
Não sei se o livro vale a pena por todo, mas pelo excerto posso adivinhar que sim!

Anónimo disse...

olá
sensivelmente bem visto
a terra é nossa mãe
em todo o mundo